Não é novidade que a depressão tem sido pauta dos principais seminários e discussões realizadas no mundo todo. Isso acontece porque a doença tem atingido cada vez mais pessoas, chegando a ser diagnosticada ainda nas primeiras fases da vida.
Dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) apontam que, nos próximos 20 anos, a depressão deve se tornar a doença mais comum do mundo, afetando mais pessoas do que qualquer outro problema de saúde, incluindo câncer e doenças cardíacas.
Faz-se extremamente necessário abordarmos essa questão nas escolas, famílias e demais áreas de convivência coletiva, sobretudo que atinja as crianças e adolescentes.
. ANTES DE MAIS NADA É PRECISO DIFERENCIAR DEPRESSÃO E TRISTEZA
Seja no público adulto ou infantil, o diagnóstico de depressão deve ser realizado com muita atenção, contando com equipe multidisciplinar e amparo da família, sociedade e Estado.
A DEPRESSÃO é uma doença psiquiátrica, crônica que produz uma alteração do humor caracterizada por uma tristeza profunda, de médio e longo prazo. Pode ser endógena, ou seja, causada por predisposição hereditária, ou exógena, decorrente de fatores externos (perdas, traumas, uso de drogas e etc). Atuação no organismo: A alta taxa de cortisol (hormônio diretamente envolvido na resposta ao estresse) ou agentes químicos afetam o funcionamento dos neurotransmissores (serotonina, dopamina e a noradrenalina), que atuam no cérebro regulando o humor, sono, apetite, ritmo cardíaco e etc.
A TRISTEZA por si só, constitui-se na resposta humana universal às situações de prejuízo, derrota, desapontamento e outras adversidades.
É importante diferenciar um quadro de depressão de um quadro de tristeza transitória, pois esta é provocada por acontecimentos difíceis e desagradáveis, tais como a morte de um ente querido, a perda de emprego, os desencontros amorosos, os desentendimentos familiares, as dificuldades econômicas, as enfermidades e etc.
E o mesmo em relação ao LUTO, pois as reações podem estender-se até um ou dois anos, podendo (ou não) apresentar quadros depressivos.
OBS: Existe o que chamamos de luto patológico (quando a pessoa não avança ao estágio de aceitação). Nesse caso pode se considerar um quadro depressivo.
. SINTOMAS A SEREM OBSERVADOS NAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES – Incapacidade de sentir prazer (anedonia) – Dificuldade de concentração – Alterações do apetite e do sono
– Tendência ao isolamento
– Agressividade exacerbada – Lentificação das atividades físicas e mentais. – Sentimento de pesar ou fracasso – Baixa Autoestima – Ansiedade e Insegurança – Tristeza profunda
– Queda no rendimento escolar – Pensamentos de morte – Sentimentos de inadequação – Culpabilidade
. COMO IDENTIFICAR
É preciso avaliar os sintomas apresentados, a história de vida da criança e o tempo em que se encontra nessa situação.
Além de espírito deprimido e da perda de interesse e prazer em realizar as atividades durante pelo menos duas semanas, a criança ou o adolescente deve apresentar também de quatro a cinco dos sintomas relacionados.
OBS: A escola desenvolve papel importantíssimo nessa questão, pois muitas crianças e adolescentes passam a maior parte do tempo na escola e é lá que os principais sintomas podem surgir.
Após a verificação dos sintomas, é hora de realizar exames físicos e avaliação de possíveis comorbidades (quando duas ou mais doenças estão relacionadas, ex: diabetes, drogas, bipolaridade);
Algumas situações traumáticas vivenciadas na primeira infância (do 1º ao 5º ano), podem se camuflar e aflorar na vida da pessoa quando esta vivencia um novo sofrimento ou trauma. A psicoterapia tem papel fundamental nesses casos.
A criança ou o adolescente depressivo sente-se como se tivesse uma “parede” entre ele e tudo o que há de bom na vida. Ele possui sentimentos de culpa que muitas vezes não fazem sentido, como se fosse o único responsável pelos dramas que sofre na vida.
Nas situações de perda, a criança ou o adolescente depressivo fica completamente “sem chão”, pois havia depositado toda sua segurança naquele “objeto” (a família, os estudos, os planos que traçou e etc). Ele passa a acreditar que nada mais conseguirá suprir esse “vazio” e se isola do mundo.
. COMO TRATAR A DEPRESSÃO EM CRIANÇAS E ADOLESCENTES?
Como vimos anteriormente, o tratamento deve ser entendido de forma globalizada levando em consideração o ser humano com dimensões biológicas, psicológicas, sociais e espirituais.
O tratamento deve abranger psicoterapia, o uso de antidepressivos (quando necessário) e demais fontes de apoio (escola, grupos, terapias ocupacionais), visando propiciar mudanças no estilo de vida do paciente.
. IMPORTANTE CONSIDERAR
– Primeiro de tudo: PEÇA AJUDA!
– Em casos de depressão infantil, a família e/ou a escola deve exercer papel de influência nessa busca, seja na identificação dos principais sintomas, seja na tomada de decisão frente aos tratamentos existentes e acolhimento de angústias.
– A família precisa ser incluída em todo o processo de tratamento para que também recebam suporte e sejam auxiliados quanto aos comportamentos potentes em cada fase.
– A depressão acontece, dentre tantos fatores, para sinalizar que algo na criança não está bom. Assim como a febre sinaliza que há uma inflamação chegando. Com base nisso, a Psicanálise concluiu que “onde há depressão, há esperança”, pois se não houvesse sintoma algum, como poderíamos trabalhar em prol da cura?
– A depressão, de certa forma, impulsiona ao amadurecimento, pois a pessoa vê-se forçada a encontrar meios para conter as emoções mais difíceis. Em outras palavras, ela é como uma criança que chama a atenção por meio de um mau comportamento.
– A depressão anda de mãos dadas ao medo, por isso lembre-se que alimentar perdas imaginárias podem acarretar depressão quando uma perda real ocorrer. Muitos se deprimem apenas com a ideia de fracasso, sem de fato isso ter acontecido.
– A escola pode atuar de forma a integrar em sua grade curricular, conteúdos relacionados às emoções e sentimentos, ajudando a criança a identificar e lidar com as questões emocionais de forma inteligente e potente!
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil sugere ainda: utilizar as diferentes linguagens (corporal, musical, plástica, oral e escrita) de forma a ajudar o aluno a compreender e ser compreendido; a expressar suas ideias, sentimentos, necessidades e desejos e avançar no seu processo de construção de significados, enriquecendo cada vez mais sua capacidade expressiva;
. CONSIDERAÇÕES FINAIS
* Depressão infantil é uma doença como qualquer outra. Não é sinal de manha, nem de preguiça, nem de irresponsabilidade;
* A depressão ocorre em qualquer fase da vida e os sintomas podem variar conforme o caso, por isso a necessidade de tratar cada caso como único de acordo com a história de vida e condições biopsicossociais;
* A família e a escola devem se manter informados sobre a doença, suas características, sintomas e riscos. É importante que ela ofereça um ponto de referência para certos padrões, como a importância da alimentação equilibrada, da higiene pessoal e da necessidade de interagir com outras pessoas;
Por Ana Carolina Guedes
Psicóloga
CRP 06/105813
Fonte: Impacto For School
http://impactoforschool.com.br/depressao-criancas-e-adolescentes/
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